sábado, 19 de janeiro de 2013

Esparramar as filhas

meninas esfarrapadas,
exibindo suas jugulares
e as siringas com as sobras do ontem
por aí
procurando ruas rígidas
que lhes sejam por elas
que ensinem a elas
como crescer  sob o tato das vulgaridades
e a como serem perpetuadas
desse tempo que se vende e amassa
em certas bancas
de sudokus e palavras entrecortadas
e, também, em áreas de fumantes
onde as histórias se acasalam
em busca da exorcização
dos próprios bens e vergonhas
aquelas meninas que se espalham
na manha líquida da calçada
nos obrigam a cheirar o respeito,
estampado até os ossos de seu passado
(desses sem nome de guerra
nem endereço)
em busca de um par de seios devotos
que se sustentem
para poderem, neles ou nos próprios pés,
se espelhar e criar fadiga para dormir
com o peso de quem esquece.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Mudei de tronco
em um quarto pro qual ninguém secretara
desejos vergonhas e medos
ou em quartos de hotel que se apegavam
ao cinismo nômade de seus hóspedes
Não me preocupei com ataduras que calassem
as cicatrizes expostas do meu sono
de dizerem que tinham orgulho da operação
de me extirpar de mim
do meu nome maiúsculo
do meu endereço
do meu rosto
Não me preocupei com as ataduras
e sua inveja da máscara que usei naquele baile
me removendo para um quarto
sem número de porta, de nascimento, de fodas









segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Mais

Mas eu me cuido
e não discuto
com a cara do mau que me aceita
que se aproveita da minha dor
vestida de saltos de peleja
toda noite,
eu banho a minha história de cerveja
e o meu bairro de tristeza
de mil crateras
que eu roubo da lua pro asfalto
eu ardo os nomes
que não se rendem a números
nem de ID nem data
data rasgada
em cada cruz que há nas casas
sem paredes nem alma
sem crianças ralas com bonecas fartas
e corações fadados
a serem pau de arara
da própria cidade
sem poesia ou poetisa
que me publica e multiplica
em olhos, seios e beijos cegos

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

nó ingênuo

eu conheço uma rua que me dobra em olhos cegos
eu conheço também um povo que, enquanto pasmo,
 dobra a minha pele
sem guardar na gaveta dos seus olhos mágicos
eu conheço um muro que dúvida dos sinais com nó cego
 dos quais seria menos cega se tivesse soltado a vista
eu me lembro também de uma calçada circunsizada
que me dava paixão de desafiar pra um duelo
e de fazer dela janta, adversária de forças secretas
eu não conheço nenhum outro caminho
pra encontrar essa rua, esse muro, essa tinta de novo
eu não conheço nenhum outro quarto cerzido
 para me desapegarem num nó cego
nos pelos
na janta
no umbigo circunscrito, endividado e perdido
eu não sei onde fui perder o meu código
acordado e aceso em dias de não
ou, simplesmente, dias de fronteiras de carne fresca
sem notícias de si mesmas]
Não reconheço mais o meu olho, no caso, dobrado
pelo ontem
onde todos me assavam nos primeiros armários,
de nascença]
e sem pedir licença
Festas na piscina rasa
que eu dou sem nem me atravessarem a cara
eu extravaso quando me anulo
na rua de mão dupla.